O AMOR PODE VIRAR ÓDIO

Subindo uma das ruas da cidade, eu vi um grafite do qual eu não me esqueço.

 

Inês, eu te amo

eu te odeio

 

Invés de Inês poderia ser eu ou qualquer um de nós. A substituição do amor pelo ódio é corriqueira, como se o ódio fosse a cara-metade do amor. Quem hoje me quer pode amanhã me rejeitar.

O que explica essa virada? A resposta talvez se encontre  na seguinte frase : sem você eu não existo. Se o outro é a condição do meu ser, se para existir eu dependo dele, é óbvio que se o outro não me quiser  eu tendo a passar do amor ao ódio. O amante não suporta a recusa e, por isso,  até o crime se torna possível, como na peça de Shakespeare, Otelo.

Quando Otelo se certifica erradamente que Desdemona o trai,ele diz: “– Vou mata-la… Maldita seja ela a partir de agora. Que ela apodreça. Que ela desapareça. Desdemona não viverá. O meu coração virou pedra. Bato nele e ele machuca a minha mão…Ai! O mundo não tem uma criatura mais adorável”.

 

 

Publicado em O que é o amor

Cena do Ato IV da ópera “Carmen”, de Bizet, em que Don José (o tenor Yonghoon Lee), portando uma faca, ameaça a cigana Carmen (a mezzo soprano Anita Rachvelishvili) na temporada 2012-2013 da Metropolitan Opera House em Nova York, foto: Ken Howard/ MET