O AMOR É DELICIOSO E CRUEL
De dois indivíduos, o amor quer fazer um só. Como isso não é possível, porque a união dos corpos é fugaz, o amor traz consigo a insatisfação.
O amor quer que o amante e o amado sejam idênticos. Se o outro não se assemelhasse a mim, se eu nele não reconhecesse a minha imagem, não o amaria. Noutras palavras, o amor é narcísico na sua essência. Como diz Carlos Drummond de Andrade:
Os amantes se amam cruelmente
E com se amarem tanto não se veem
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.
Publicado em O que é o amor
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Camille Claudel, “Shakuntalah” (ou “Vertumnus e Pomona”), escultura em mármore, 1905, Museu Rodin, Paris