O amigo ilumina

A palavra iluminação, no sentido figurado, é sinônimo de revelação e é uma palavra-chave na filosofia, na religião e na teologia. Usei essa palavra para falar da relação entre os amigos, porque a amizade foi fundamental na minha vida. Não sei o que seria dela sem a confiança que eu tive nos que eu posso chamar de meus amigos.

Sem a escrita, eu não vivo, e o meu trabalho literário em grande parte dependeu da disposição que eles tiveram para me escutar e me ler. Por isso, escrevi no meu romance O clarão que “o amigo tanto vê quanto ouve o que o outro não é capaz de ver nem de ouvir”. A frase me faz pensar no De Amicitia, de Cícero, para quem o amigo é o mais precioso dos bens.

nadinha

Não sei quantas vezes eu li O doente imaginário, de Molière, cuja modernidade sempre me impressiona. Em pleno século XVII, ele fez a sátira do discurso médico, inventando o Doutor Purgon – administrador de purgantes – e Fleurant, o assistente do Doutor, cujo nome vem do verbo francês fleurer, que designa o ato de cheirar as fezes do paciente.

Com Purgon e Fleurant, Molière faz rir, fazendo pouco da impostura de um saber, que só se sustenta na transferência do paciente e não prescinde da encenação. Embora datada, a sátira não deixa de ser atual, porque a credibilidade do médico continua a ser indissociável da credulidade do paciente.

Prancha de sombras chinesas para “O doente imaginário”, de Molière

Comentários sobre "O amigo ilumina"
  1. A grande questão é distinguir quem é amigo verdadeiro. Há os que não iluminam, os que nos cegam ou enganam iludindo nosso ego.
    Os que nos apagam e deixam a escuradão no lugar do que a princípio deveria ser luz.Tomemos propriedade de nós mesmos para não cairmos em um sequestro de nossa essência.

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