O DESESPERO ESTÁ A SERVIÇO DA IGNORÂNCIA

Nada é mais humano do que o desespero , ao qual me entreguei repetidamente. Ao escrever O clarão, descobri que o desespero serve para nós nos afastarmos da realidade e não termos consciência clara do que já sabemos.

Ana, a heroína do romance, fica sabendo que João vai morrer. Chora como quem nunca vai parar. Ela nada quer ouvir ou ver, se fecha em copas para afastar de si a consciência de que o amigo é mortal e também para esquecer que é tão mortal quanto ele.

nadinha

Objetivamente, o amado está envelhecendo. O amante olha para ele e vê os cabelos brancos, além das primeiras rugas. O que ele enxerga, no entanto, é o jovem pelo qual se apaixonou. Isso é possível porque o amante enxerga no amado a sua alma gêmea, e as almas não têm idade.

“Romeu e Julieta”, balé, São Paulo Companhia de Dança, 2014.

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