DE OLHOS ABERTOS
O erotismo requer o adiamento e até mesmo a suspensão do gozo. Isso é claro no amor cortês. O trovador se entrega à trova e pode inclusive suportar que a dama não se entregue a ele.
Me beije, me envolva e se afaste para olhando me apalpar o seio-cabaça da direita, beber depois o mel do bico intumescido no seio esquerdo, o do coração. Me prenda o mamilo entre os dentes, deixando que eu, entreaberta, me entregue à boca dele e ao meu roçar, desejando que ele adie o gozo e se satisfaça com o adiar.
Mel de acácia no rego dos seios e nas pétalas da rosa entreaberta. Perfumar assim a língua dele, prometendo ser flor de laranjeira depois. Ser todo dia outra e com isso escapar ao tempo.
A trilogia do amor/A paixão de Lia
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Camille Claudel, “Vertumne et Pomone”, mármore, 1905, Museu Rodin, Paris, França