AO CONTRÁRIO DO EMAIL, A CARTA É FEITA PARA SER RELIDA
O email serve para comunicar. A gente lê, arquiva ou joga fora. A carta é feita para ser lida e relida. Sobretudo a carta de amor, que tanto permite arrebatar o destinatário quanto dar a segurança de que ele precisa.
O email, a gente traga. A carta, a gente degusta. Cada uma das palavras do texto é significativa e, portanto, essencial. Serve para dar vida ao amado quando ele está ausente ou quando já está morto. Permite suportar a viuvez.
As grandes amantes foram grandes missivistas. A maior delas talvez tenha sido Simone de Beauvoir. Ela manteve uma correspondência fervorosa com o escritor americano Nelson Algren, que conheceu nos Estados Unidos durante uma turnê de conferências. Iniciada em fevereiro de 1947, a série de cartas chega a novembro de 1964, quando a paixão inicial já havia se tornado uma terna amizade.
nadinha
No pátio do Centro Georges Pompidou, há uma escultura chamada Adeus, de Henri Laurens. Vi, pela forma do corpo, que é uma mulher. Sua cabeça está tão imersa no peito que o rosto não é visível. Isso causa estranheza e faz logo entender que o adeus diz respeito à morte. Quem perde alguém morre com o seu morto, fica, por assim dizer sem rosto. Primeiro, deixa de ser quem era, para só depois voltar a existir.
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O que tenho a dizer?
-“Ai! Como me faz bem ler o que você escreve!
Parece até que sou eu quem escreve o que você escreve! Mas não tenho essa tão profunda capacidade!”