A morte pode ser uma estrela

Não aprendi que a morte pode nos iluminar com a leitura. Certas coisas a gente só aprende com a experiência. A começar porque ela impede de negar que nós somos mortais. Por isso, aliás, os budistas preconizam a observação do cadáver.

Segundo Lacan, ninguém acredita que seja mortal, porque nós até podemos querer a morte; desejar, não. E, como diz Freud, o desejo é onipotente. Quem pode convencer o Quixote de que a mulher em quem ele vê uma grande dama, Dulcineia del Toboso, é uma simples camponesa? Nenhum argumento fundado na realidade é capaz de desacreditar a fantasia.

nadinha

Tolstói, o romancista russo, diz que todas as famílias são infelizes, embora não o sejam da mesma maneira. São infelizes porque enterram e choram os seus mortos, claro. Mas há uma outra razão tão importante quanto esta. A regra, na família, é que o indivíduo não pode se expressar livremente, ser quem ele é. Com raras exceções, a condição para pertencer ao grupo é abrir mão da própria individualidade.

“Dulcineia”, lavradora do Toboso, idealizada pelo Quixote, desenho.

Comentários sobre "A morte pode ser uma estrela"
  1. La muerte hay que admitirla como un visitante inexorable; a veces inoportuna, pero otras deseable o necesario.

    1. Adorei saber que estou sendo lida por um espanhol e aproveito para contar que A Mae Eterna vai ser lançado na Espanha.

Os comentários estão fechados.