consulta com Betty Milan

SEXO NÃO É QUESTÃO DE MODA

Sou católica tradicional e fui educada para não fazer sexo antes de casar. Isso me inibe e me atrapalha nos meus relacionamentos. Hoje em dia, os homens não aceitam namorar sem sexo.

O mais fácil seria me envolver com homens religiosos, mas não posso mandar nos meus sentimentos. Às vezes, me surpreendo gostando de um homem que não tem ligação nenhuma com a minha religião.

Tenho 24 anos e nunca tive um namoro duradouro por causa do medo de ser abandonada. Desejo amar e ser amada e constituir uma família. Peço ajuda porque estou num impasse. A situação atual me faz sofrer.

 

O seu e-mail me deixou com a pulga atrás da orelha. Porque mostra o quão arcaica a educação católica tradicional é, mas também o quão autoritária é a moda, que não concebe o namoro sem a relação sexual. Obriga a transar. Ora, sexo só é bom quando não há obrigação. Sexo livre também significa livre dos imperativos da moda. Esta deve ser a enésima vez que eu escrevo isso e provavelmente vou continuar escrevendo.

Agora, o que faz uma pessoa que está dividida como você entre uma moral arcaica e uma moda tirânica? Precisa se debruçar sobre o próprio discurso para determinar qual o caminho a seguir. Por exemplo, você diz que a solução seria namorar um homem da mesma religião, porém também diz que não é dona dos próprios sentimentos e se envolve com quem nada tem a ver com a sua religião. Ora, isso só acontece porque você não está tão convicta de que a educação “católica tradicional” é a melhor. Do contrário, não amaria quem não adere a ela. Os amantes se espelham. Talvez não exista expressão mais clara disso do que flauta mágica, de Mozart, que chamou seus dois amantes de Papagueno e Papaguena. O nome deles é o mesmo por causa do espelhamento.

Queira ou não, para sair do impasse, você tem que se questionar seriamente. Quer viver o amor que nunca foi um cordeirinho do bom pastor ou quer constituir família conforme os mandamentos da igreja? Noutras palavras, quer o amor, que é infinito enquanto dura e não dá garantias, ou quer uma vida sem esse risco, programada exclusivamente em função do casamento? Não tenho certeza de que esta segunda via seja a sua. Se fosse, você seria insensível à flauta mágica do amor. Simplesmente não a escutaria.

 

Publicado em Quem ama escuta