consulta com Betty Milan
SER OU NÃO SER CRIMINOSO
Por favor, me explique o que me acontece. Tenho 19 anos, moro numa favela paulista e, desde os 12 anos, trabalho na política pública assistencial, militando pelos direitos da criança e do adolescente. Terminei o segundo grau e pretendo fazer uma faculdade.
Só que nessa trajetória eu não fui santo. Furtei e roubei a mão armada. Até caixa eletrônico eu levei. Tudo sempre friamente calculado: a saída para o crime, o retorno, o álibi caso eu fosse preso. Graças a Deus, nunca fui.
Sou respeitado por criminosos graduados e admirado por empresários, assistentes sociais, intelectuais e outros. Tenho jeito para o crime e para a vida social. Gostaria de enterrar o meu passado de criminoso, mas não sei distinguir o errado do certo. O que fazer?
O crime te fascina, porém, você tem clarividência suficiente para resistir a ele. Está em condições de descobrir a razão do fascínio, desde que seja escutado por alguém que saiba ouvir a história que você tem a contar sobre o furto, o roubo a mão armada e o respeito de criminosos graduados. Procure esta pessoa através da rede de política pública assistencial, pois, como os adolescentes pelos quais você milita, você tem direitos e, em particular, o de não enveredar pelo caminho do mal por não ter sido escutado.
Você não sabe distinguir o errado do certo porque não foi educado para isso. Agora, o que importa é o que você fará com o que os outros fizeram.
O seu passado não precisa ser enterrado; precisa ser rememorado para que deixe de te determinar e você deixe de se repetir em atos contrários à sociedade e a você mesmo. Ou seja, para gozar de liberdade. O que você pode fazer de melhor é militar em causa própria.Ao fazer isso, estará efetivamente dando a volta por cima e lutando pelos direitos humanos. Só é responsável em relação aos outros quem o é em relação a si mesmo.
REMEMORAR É VIVER
Publicado em Fale com ela