consulta com Betty Milan
QUEM AMA NÃO INCRIMINA
Tenho 21 anos e estou namorando um rapaz há um ano. Minha vida sexual começou há sete meses e, por causa de uma inflamação na vagina, tenho dificuldade em transar. Várias vezes, só para agradar meu namorado, eu tive relações sentindo dor. Mas o que mais me aflige é que, durante a masturbação e o sexo oral, as duas maneiras que eu tenho de chegar ao orgasmo, imagino que estou numa danceteria e o meu namorado é outra pessoa, em geral um desconhecido. Às vezes, eu também imagino que sou outra, a amante do meu namorado. E o pior é que não me sinto culpada de nada, ao contrário dele, que sente culpa simplesmente por olhar revistas pornográficas para se masturbar. Uma culpa que eu reforço, como se eu não fizesse muito pior. O que há de errado comigo?
Você teve relações com inflamação na vagina só para agradar o seu namorado ou para se agradar? Para não correr o risco de perdê-lo? Seja como for, foi um sacrifício sem virtude. Por outro lado, imaginar na relação sexual que o parceiro é um outro é tão comum quanto imaginar-se outro.
Você pergunta o que há de errado com você por achar que deveria ter culpa. Por considerar que no amor precisa haver coincidência entre a pessoa com quem se transa na realidade e na imaginação. O amor não impõe isto ou aquilo. Quem ama, libera o amado para transar como deseja, viver a fantasia que a ele convier. Como diz o poeta Octavio Paz, no livro que ele escreveu aos 80 anos, A dupla chama, “o amor é uma aposta extravagante na liberdade”(41).
Só a sexualidade animal obedece a um padrão único. A sexualidade humana é moldada pela imaginação dos homens e se caracteriza pela infinidade de formas através das quais se manifesta. O erotismo implica a variação. Segundo os antigos, as posições são dezesseis, porém, as cerimônias e os jogos eróticos são infindáveis e mudam em função do desejo, que é o pai da fantasia. Mudam com o clima, a geografia, a sociedade, a história e o indivíduo, além de mudar com a inspiração do momento.
A nossa natureza é essa e, portanto, não há motivo para se culpar ou culpar quem quer que seja pela forma de transar. Na vida social, o que importa é respeitar os atos alheios. Já na vida sexual, importa respeitar a imaginação alheia e a própria. Nada é pior do que incriminar ou se auto-incriminar. Só quem não ama ou não se ama faz isso.
O EROTISMO REQUER INVENÇÃO
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