consulta com Betty Milan
O TRIÂNGULO PODE SER A SOLUÇÃO
Não sei como resumir a minha história, que daria um livro. Vou tentar ser o mais objetiva possível. Tenho 35 anos, sou casada e mãe de duas filhas. Amo meu marido, sou feliz com ele e não quero me separar. Só que reencontrei um amor de infância e nós acabamos na cama. Me perguntei se era só sexo que eu queria, mas percebi que não. Será possível ter o mesmo sentimento por duas pessoas diferentes?
Amo tudo no meu marido, que, além de bonito, tem uma inteligência acima da média e um ótimo coração. Também amo tudo no meu amante, suas ideias, a voz, o jeito de me namorar. Sofro muito, pois sei que estou sendo egoísta, mas não consigo abrir mão de nenhum dos dois.
Você pergunta se é possível amar dois homens ao mesmo tempo. Simone de Beauvoir diria que sim. Acrescentaria que é aberrante alguém esperar de uma única pessoa a satisfação de todos os seus desejos ao longo da vida inteira.
Beauvoir foi, na teoria e na prática, uma precursora. Escreveu O segundo sexo, cuja contribuição para o feminismo é inestimável. Este livro, de mais de mil páginas, traça a história das mulheres e mostra que a alienação delas é de ordem cultural. “Não é a inferioridade das mulheres que determina a sua insignificância histórica, é a sua insignificância histórica que as condena à inferioridade.” Quando editado nos Estados Unidos, O segundo sexo vendeu 1 milhão de exemplares. Foi a partir dele que as feministas Betty Friedan e Kate Millett elaboraram a sua obra escrita.
Além de ter sido uma precursora no campo das ideias, a escritora francesa teve a audácia de viver publicamente o amor por dois homens, Sartre e Algren. De Sartre, ela foi inseparável durante meio século. Os dois evoluíram solidariamente. Há um diálogo contínuo entre os textos de um e de outro, entre suas vidas. Quem leu, não se esquece das últimas linhas de A cerimônia do adeus, escrito quando Sartre morreu. “Sua morte nos separa. Minha morte não nos reunirá. Assim é. Já é ótimo nós dois termos coincidido durante tanto tempo.”
A relação com Sartre não a impediu de viver outra diferente com o escritor americano Nelson Algren, que ela chamava de “meu amigo, meu amante, meu bem-amado, meu marido adorado” e com quem manteve uma correspondência amorosa de 1947 a 1964, hoje publicada em livro. Vale a pena ler as cartas por se tratar de uma grande celebração do sentimento amoroso.
Beauvoir é uma referência e a experiência dela precisa ser levada a sério. Em vez de se culpabilizar, você, que ama dois homens e não tem como se separar de nenhum, devia aprender a se equilibrar no triângulo e ficar bem com esta solução.
Publicado em Quem ama escuta
Os comentários estão fechados.
Para apimentar, que o marido e a mulher do amante saibam. Seria um triângulo equilátero, cada um vendo sob o seu ponto de vista, seu ângulo, sua posição, geometricamente corretos.