consulta com Betty Milan

O QUE IMPORTA É SER FELIZ

Tenho 42 anos e 17 de casamento. Meu marido se relaciona com pessoas na internet desde 1996. Descobri isso lendo no e-mail conjunto que tínhamos a resposta de uma mulher que se correspondia com ele. Fiquei chocada, mas deixei que ele a encontrasse numa viagem. Voltou prometendo não repetir a experiência, porém continuou procurando pessoas em chats de sexo. Há alguns meses, descobri que há um site com fotos dele nu da cintura pra baixo, o pênis ereto. Não suportei e contei que sabia.

Respondeu que faz isso por impulso e ainda porque a vida é monótona. No entanto, diz que sou uma boa esposa, carinhosa etc. A meu ver, ele tem um vício que precisa ser tratado. Só que ele já fez psicanálise uma vez e não quer mais saber. Tenho raiva de mim por não sair dessa situação. Sei que contribuo para que o vício continue.

Quero me separar e sinto pena. Porque o meu marido está num momento profissional delicado. Não quero mais viver com uma pessoa como ele, embora ainda o ame. Preciso saber se o que ele faz é ou não normal. Se eu tenho que aceitar ou se estou errada. Não tenho nenhuma vontade de procurar sites de sexo e fazer o que ele faz.

 

A resposta que o seu marido deu, quando você descobriu o site onde ele aparece nu, é crível. Ele se exibe, por um lado, para satisfazer uma pulsão à qual não resiste — uma pulsão exibicionista. Por outro lado, quer variar de objeto sexual. Há quem saiba viver uma vida que não seja monótona com uma única pessoa e há quem precise de muitos parceiros para se contentar. Um cônjuge pode ou não aceitar essa condição, que todo libertino impõe.

A conduta do seu marido é perversa — porque o prazer é a única lei do desejo dele —, mas não é patológica e não requer tratamento necessariamente. Você é que não tolera a conduta e deveria procurar alguém que possa te escutar para saber que rumo dar à sua vida. Vai ser a “boa esposa, carinhosa” até o fim dos seus dias ou vai mudar de ares porque sofre na posição em que está?

Muitas mulheres aceitaram ser a dita esposa. Sobretudo na França do século XVIII, onde o libertino se opunha à moral burguesa, fazendo a apologia da inconstância e do prazer dos sentidos. Se quiser se aprofundar na filosofia da libertinagem, leia As ligações perigosas, de Laclos. Nesse romance, a relação entre os sexos é uma questão de pura estratégia e ninguém deve nada se não a si mesmo.

Você me pergunta se está ou não errada. A meu ver, a pergunta é outra: quer ou não um companheiro que não vai abrir mão da libertinagem? Está casada há 17 anos e há 11 ele se entrega a ela. Dificilmente vai mudar. Nem por isso é má pessoa ou precisa ser condenado. Você, aliás, tende a ser tolerante e isso é um mérito seu. Desde que a tolerância não te impeça de tomar a decisão certa. Ou seja, a melhor para você.