consulta com Betty Milan

O AMOR REJUVENESCE

Tenho mais de 70, família constituída, muitos filhos e netos. Uma mulher excepcional. De repente, me apaixono por uma garota de 25 anos, morena de olhos verdes, uma fada. Devo me declarar? Será que eu sou ridículo? Estou completamente perdido. Não sei o que eu faço. Como sofrer o menos possível? Por favor, responda.

 

O seu e-mail me levou ao dicionário. Consulto-o sempre. Procurei, no Aurélio, a palavra ridículo e encontrei dois sinônimos: risível e irrisório. Depois, no Petit Robert, o outro dicionário que eu sempre consulto, mais dois: grotesco e absurdo.

O amor nem é risível— muito pelo contrário; nem irrisório— move o céu e as estrelas; nem grotesco— trata-se de um sentimento sublime; nem absurdo— o amor faz tanto sentido que o poeta lírico existe desde sempre. Portanto, o ridículo você não precisa temer.

Você me pergunta se deve ou não falar dos seus sentimentos para a jovem que o arrebatou. Respondo com outra pergunta: vai deixar passar a ocasião, com mais de 70anos, de viver de novo o amor, que precisa das palavras para acontecer? Não faça isso consigo mesmo. Até porque a única saída de quem está apaixonado é viver a paixão. Ainda que você a vivesse abertamente, a família não deveria censurá-lo. Porque o amor rejuvenesce. Quem pode censurar o próximo por desejar o rejuvenescimento? Mas, se você acha que a família não suporta a verdade, recorra à clandestinidade.

Para sofrer o menos possível, é preciso aceitar o que acontece e encontrar um equilíbrio novo. A vida é uma história de equilibrismo, que pode ser mais ou menos longa em função da sorte e do talento de cada um. Só não anda na corda bamba quem já morreu.

Noutras palavras, não deixe de correr o risco de conquistar a sua amada. Para terminar, cito um poema de Manuel Bandeira, que morreu aos 80 e deve ter vivido o amor até o último dos seus dias: Bem que velho te reclamo/ Bem que velho te desejo, quero e chamo.

 

 

Publicado em Quem ama escuta