consulta com Betty Milan
O AMANTE VIVE SUA LIBERDADE COM O AMADO
Namoro há oito anos a mesma mulher — desde os 19. Ela é fantástica, uma mulher para casar. Uma coisa, no entanto, me aflige. Só tive experiência sexual com ela. Nunca a traí e não concordo em fazer isso com uma pessoa que não me dá motivos.
Os meus amigos saem e se divertem com várias mulheres — tendo ou não uma esposa ou namorada. Me dá vontade de fazer o mesmo. Porque desejo ter outras experiências e sinto medo de trair a esposa depois do casamento.
Estou vivendo um grande dilema. Não sei se devo largar a mulher da minha vida para curtir e correr o risco de me arrepender ou continuar com ela e dar umas “escapadinhas” até o casamento.
Você é vítima do espírito de imitação e da moral dos seus amigos. Acha, como eles, que para ser homem precisa “ter outras experiências” e, se não tiver, vai “trair a esposa depois do casamento”. A moral dos seus amigos é machista e, portanto, arcaica. No contexto dela, o homem tem o dever e o direito de viver várias experiências, enquanto a mulher tem o dever de ser virgem até o casamento e fiel até a morte.
O machismo exige do homem a multiplicação das transas e da mulher, a contenção sexual. Com essas exigências, aprisiona os dois. E é por isso que a “escapadinha” se torna inevitável.
Entre os sinônimos da palavra escapar eu encontrei livrar-se. O homem que está com a mulher da sua vida, como você, não quer se livrar dela, pois realiza a sua liberdade com ela. Você, aliás, afirma no início do seu e-mail que não “concorda” em trair a sua namorada. Vocês estão há oito anos vivendo um amor em que a exclusividade é possível. Esse sentimento hoje existe, amanhã ninguém sabe, pois a exclusividade é a exigência ideal do amor. Só que a infidelidade é o cotidiano dos casais. A canoa do amor dificilmente resiste ao cotidiano.
Como diz Octavio Paz no meu livro de cabeceira, A dupla chama, “o amor é uma paixão que todos ou quase todos veneram, mas poucos vivem realmente”. Paz inclusive o compara a um ascetismo, arte que permite submeter o corpo à alma, dominar os instintos através da renúncia a tudo o que não é importante. O asceta, como o alquimista, que extrai o ouro do chumbo, quer o essencial.
O amante quer o ouro do amor e não se entrega às experiências que o comprometem. Que tal bendizer a sua hora e vivê-la simplesmente? Diga não à moral dos seus amigos, que é contrária à sua realidade atual e só pode te desservir.
Publicado em Quem ama escuta