consulta com Betty Milan
NÃO SEM COMPAIXÃO
Trabalho na Polícia Civil. Estou tomando a iniciativa de lhe pedir que me dê uma dica ou me aconselhe uma literatura que não seja muito difícil e muito cara.
Acreditamos ter encontrado o elemento que, há um tempo atrás, violentou e matou algumas mulheres em Guarulhos e na Zona Norte de São Paulo.
Por enquanto, só há indicios, certeza nós não temos. A certeza depende do constrangimento de alguma testemunha. Você poderia me dizer como chegar à testemunha sendo o mais sutil e o menos traumático possível?
Me surpreendi ao ler o seu e-mail. A polícia está associada à força bruta, e o seu texto desmente isso. Você quer prender o criminoso, aplicar a lei e cumprir o seu dever, mas não quer ser inutilmente violento. Ou seja, você distingue o policial que tem autoridade do policial autoritário. O primeiro se limita a usar o poder para fazer a lei vigorar. O segundo abusa do poder.
Só o primeiro é um guardião dos direitos humanos. Sabe se controlar e agir dentro dos limites impostos pela sua ação. O segundo está identificado com o criminoso, embora represente a lei.
Se você precisa usar a força para o “constrangimento” da testemunha e a punição de quem matou e estuprou, tem que usar. Tendo em vista o seu desejo de ser “sutil”, você saberá constranger o mínimo e talvez ensinar seus colegas a proceder da mesma maneira, aplicando a lei sem perder a compaixão.
O livro cujo leitura eu recomendo é Uma ética para o novo milênio,do Dalai Lama. Particularmente pelo capítulo que se intitula A ética da contenção. Nele, o Dalai Lama diz que a falta de contenção inibe a compaixão. Quem meditar sobre esta frase e desenvolver uma disciplina para se conter poderá se tornar mais humano e viver melhor.
TER AUTORIDADE NÃO É SER AUTORITÁRIO
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