consulta com Betty Milan
Meio galã
Sou um jovem meio galã, de olhos verdes. Moreno, de físico esportivo, o sonho das garotas. Já transei com muitas meninas que só queriam saber de sexo e até pagariam para transar comigo.
Há dois anos transei com um amigo meu. Não que fosse um desejo meu ou dele, mas aconteceu! Depois, nós nunca mais falamos disso, ficamos mais amigos do que já éramos. Agora vamos ser pais e há duas semanas transamos de novo. Prefiro ele à minha namorada, a futura mãe do meu filho.
Não gosto de gays e nem sou. Preciso saber o que se passa comigo, já que só tenho vontade com ele e ele comigo. Será uma atração pelas massagens que ele me faz no corpo? Isso é normal ou tem cura?
Quem resiste a um meio galã de olhos verdes? Ninguém. Precisamente porque se apresenta como meio galã, ou seja, nem bem isso e nem bem aquilo, à semelhança do andrógino, que a moda continuamente promove. Basta assistir aos desfiles ou entrar numa loja da Armani para verificar. Entendo também que você seja o sonho de muitas garotas.
Porém, quem te faz sonhar é o seu amigo. Você conta que transou com ele e acrescenta: “Não que fosse um desejo meu”. E o desejo era de quem? De um outro, que inconscientemente governa os seus atos? Improvável. Porque vocês transaram de novo e você gostou mais dele do que da namorada. Claro que não foi melhor só por causa das “massagens” e sim porque vocês estão apaixonados. Um se espelha no outro – os dois vão ser pais – e você só quer ele, que, por sua vez, só quer você.
Possível até que você não seja gay. Mas, se for, não precisa fazer haraquiri. O tempo em que os homossexuais deviam se fustigar pela preferência sexual já vai longe. Graças inclusive a Freud que, em 1905, escreveu um ensaio mostrando que a sexualidade humana é independente da procriação. Foi uma idéia precursora que favoreceu a aceitação da homossexualidade, cuja legitimação social dependeu, no entanto, de uma longa militância política. Começou, no fim do século XIX, com André Gide, prêmio Nobel de Literatura, que era amigo de Oscar Wilde e se revoltou contra a condenação deste, sustentando publicamente o direito a uma escolha sexual livre. Direito dos hétero, dos homo e dos bissexuais.
A SEXUALIDADE HUMANA INDEPENDE DA PROCRIAÇÃO
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Excelente resposta, Betty: lúcida, muito bem fundamentada.