consulta com Betty Milan

MALTRATADA

Gosto de um homem que conheci na internet, um solteiro convicto. Ele é tudo na cama, mas ele é um cachorro. Me faz ir até a estação do metrô de onde nós vamos direto para o motel. Na cama, ele me deixa no céu. Que homem! Quando ele liga, eu perco o chão, o desejo de encontrá-lo é mais forte que tudo. Mas eu sofro muito, pois ele não me trata bem. Há quatro anos, nós saímos de dois em dois meses e eu fico sonhando com a possibilidade de conquistá-lo, me transformando numa outra mulher. Sei que isso não vai acontecer. Por que eu caio nesse abismo?

 

É terrível que nós estejamos sujeitos a gostar de um outro ser humano que é um “cachorro”. E você gosta, porque “ele é tudo na cama”, ou seja, porque você não pode abrir mão do gozo que ele propicia. Seria bom se perguntar que gozo é esse. Ou para renunciar ao mesmo ou para reinventá-lo com alguém que não seja perverso. Perder o chão e ficar nas nuvens é ótimo. Nenhum de nós prescinde deste desligamento. Ter desprezo por si própria pelo fato de ir para as nuvens com quem não te trata bem é uma desgraça e também seria bom você se perguntar por que você precisa deste sofrimento.

Respondendo às duas perguntas acima: você pode deixar de cair no abismo e de sonhar com a possibilidade de conquistar um homem que já te tratou mal durante quatro anos.

Edward Albee(82) escreveu uma peça em que um arquiteto casado se apaixona por uma cabra pela doçura do seu olhar. Uma paixão devoradora, que acaba com a esposa e com ele, porém não o diminui. Paradoxalmente, o engrandece.

A peça se chama A cabra ou quem é Sílvia? Vale a pena ler para se separar de um parceiro sexual que sequer merece ser chamado de cachorro, pois este é “o melhor amigo do homem”.

 

 O GOZO NÃO VALE  O DESPREZO POR SI PRÓPRIO

 

Publicado em Fale com ela