consulta com Betty Milan

LINGUA PRESA

Percebi aos 15 anos que não conseguia me expressar em determinadas situações e por isso seria difícil arranjar emprego e fazer uma boa carreira. Pensei em me suicidar mais de uma vez.

Fico totalmente travado quando se trata de fazer um seminário ou mesmo de contar uma história. O que me apavora é a preocupação com o tempo de que eu disponho e a idéia de um súbito branco.

Nunca me sinto seguro ao falar. Parece que não consigo reter nenhuma informação e fico com a impressão ser medíocre, burro mesmo. Será que sou intelectualmente limitado?

 

O seu e-mail não denota limitação intelectual. E você próprio, aliás, duvida dessa hipótese. O problema não é a inteligência, mas a insegurança, cuja razão pode ser encontrada na sua história. Você não nasceu de língua presa. Com a escuta de um especialista, ela pode se soltar e você será mais feliz.

A sua dificuldade de aceitar o limite imposto pelo tempo é comum e está relacionada com uma demanda arcaica de amor incondicional. Aquele amor de mãe, que pode fazer bem e pode fazer mal por não ensinar o auto-controle.

Para você, o limite é um obstáculo, só que ele pode precipitar uma fala mais concisa e pertinente. Lacan se valia da sessão curta exatamente para isso. Não foi compreendido e acabou sendo expulso da Sociedade Internacional de Psicanálise (SIP). Banido, excomungado, como ele disse, comparando a SIP com a Igreja. No entanto, ele estava certo, pois ninguém precisa de muito tempo para dizer o essencial. Um lapso pode ser mais significativo do que um discurso inteiro. Há lapsos históricos, inesquecíveis, que Freud menciona na Psicopatologia da vida cotidiana.

E há poetas que dizem tudo com um só verso. A exemplo de Camões: “ O amor é um contentamento descontente”. Seis palavras para expressar o que nós todos sentimos. Para ser universal.

 

AMOR DE MÃE PODE FAZER BEM

 E PODE FAZER MAL

 

Publicado em Fale com ela