consulta com Betty Milan
INSATISFEITA
Tenho 30 anos e nunca tive um namorado sério. Perdi minha virgindade tarde e os homens nunca passaram de meros casos mal-começados, mal-resolvidos e mal-terminados. Às vezes, procuro saber onde errei, mas depois considero que é perda de tempo e vou em frente.
Não consigo me relacionar com ninguém. Atualmente, só transo com quem eu já transei. O lance do fingimento está sempre no ar. Finjo que acredito no que os homens me dizem e, por alguns instantes, eles são meus namorados. Sou admirada, paquerada e me acho sensual. Não deixo a vaidade de lado. Cuido do meu visual para estar bonita quando saio.
Na internet nunca encontrei ninguém e em balada não tive sorte.Quando é que eu vou ter um relacionamento estável, um namorado?
Enquanto você considerar que é perda de tempo se debruçar sobre a sua história, o namorado não acontece. Cuidar do visual é importante, mas, se você não cuidar do que está por trás da aparência, corre o risco de não sair da atual posição. Passar o resto da vida fingindo que acredita, enganando e deixando-se enganar. O prazer que pode resultar disso, a longo prazo, não compensa.
Na sua “Autopsicografia”, Fernando Pessoa escreve: O poeta é um fingidor/Finge tão completamente/Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente. O fingimento na poesia é um imperativo. Graças a ele, o poeta alcança a eternidade.
O fingimento na vida sexual é possível. No amor, ele é inconcebível. Como diz Rainer Maria Rilke numa das suas Cartas a um jovem poeta(86), quem ama protege. E não há proteção maior do que a decorrente da confiança no outro, da certeza de que ele não é capaz de enganar.
Tendo em vista o que você quer, fingir é perder tempo. Procurar a sua verdade – a razão dos casos mal começados, mal resolvidos e mal acabados – não é. Que tal ir por este caminho para chegar a um lugar novo?
QUEM AMA PROTEGE
Publicado em Fale com ela