consulta com Betty Milan
INCONFORMADO
Há três anos e meio, terminei uma relação de onze meses com uma mulher divorciada como eu. Foi a maior paixão da minha vida. Apesar de uma intimidade sexual deliciosa e das juras de amor que nós trocávamos, eu não conseguia confiar nela. A paixão e a insegurança eram tamanhas que eu resolvi terminar. Imediatamente depois, ela começou a sair com outra pessoa. Sofri muito.
Hoje eu vivo em paz com a minha companheira e o filho de 2 anos que nós temos. Não quero me separar e nem magoar minha companheira. Mas continuo a sonhar com a ex. Como explicar que ela tenha saído com outro assim que nós terminamos? E como explicar que eu sonhe com ela, embora esteja feliz?
O seu e-mail me faz pensar em Shakespeare, na frase que Hamlet diz para o amigo Horácio: “Há mais coisas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia”. Nem tudo a gente pode compreender. A sua ex talvez jurasse amor, mas não te amasse. Procedia como uma atriz. Talvez ela te amasse, mas não tenha suportado o fora e tenha se ligado ao primeiro que apareceu. Não há como explicar a conduta da ex só a partir do que você conta.
O que eu sei é que você não suporta a contradição. Nem a da ex e nem a sua. E nós humanos não temos como evitá-la, pois o inconsciente não obedece ao princípio da não-contradição. Queira ou não, estamos sujeitos ao inconsciente e podemos nos tornar contraditórios. Dizendo, por exemplo, o contrário do que desejamos – como no lapso, manifestação de que Freud se valeu para escrever A psicopatologia da vida cotidiana, um dos seus livros mais importantes.
Além de aceitar a nossa condição, você precisa renunciar ao tormento da paixão. Vale a pena procurar um analista para deixar de ser vítima do seu masoquismo, ser ainda mais feliz com a sua companheira e o seu filho que só tem 2 anos e não pediu para nascer.
O primeiro passo você já deu me escrevendo. Por que não dá o segundo?
TODOS PODEMOS SER CONTRADITÓRIOS
Publicado em Fale com ela