consulta com Betty Milan

HOMOPOLÍTICO

Tenho 42 anos, sou gay e não agüento mais ouvir coisas absurdas sobre a homossexualidade. Até quando as pessoas vão nos tratar como se tivéssemos “escolhido” essa orientação? Acredito numa atitude política e, por isso, estou reagindo.

Nós sofremos muito com a incompreensão dos outros, inclusive a que existe no nosso meio. Acabo de perder um namorado porque o preconceito dele em relação a si mesmo é maior do que o sentimento que tem por mim. Dizia me amar e me abandonou sem mais por causa das pressões externas e internas.

Diga na sua coluna que nós somos gays porque o destino quis.

 

O destino diz respeito ao que acontece na vida de um ser humano independentemente da sua vontade. Quando se trata do amor, do sexo e da morte, faz sentido usar a palavra destino.

Um sujeito não é hétero ou homossexual porque quer. E, aliás, não passa pela cabeça de ninguém que o heterossexual o seja por querê-lo. Já a história do homossexual é diferente. Depois de ter sido culpabilizado e incriminado, é agora responsabilizado por assumir a sua tendência. Como se pudesse não assumi-la sem sacrificar a sua vida sexual. Um sacrifício que pode inclusive custar a vida, pois a felicidade depende – e muito – do sexo. Não existe uma só cultura que não tenha celebrado o erotismo.

A discriminação social induz os homossexuais a sustentar abertamente a sua posição, o que não deixa de ser uma contrariedade para quem não deseja tornar pública a sua vida privada. Não ter que falar da própria sexualidade é um direito inalienável. Como não ter que obedecer aos imperativos da moda, hoje tão contrária ao pudor – sentimento que, segundo Stendhal, é indissociável do amor.

 

 NAO FALAR DA VIDA SEXUAL

 É UM DIREITO INALIENÁVEL

 

Publicado em Fale com ela