consulta com Betty Milan
Fantasia de ser violentada
Eu não sentia mais desejo de sexo. Isso deixou meu marido tenso, inseguro. A gente brigava quase todo dia. Até que uma noite, no meio de uma briga, ele resolveu forçar as coisas entre nós. Foi quando percebi que a violência dele me excitava. Senti um prazer que nunca tinha sentido antes.
Depois daquela noite, passei a sonhar que ele me obrigava a fazer amor. Eu provocava brigas para que ele ficasse irritado e fizesse amor comigo de um jeito agressivo. Tudo ia bem até que resolvi confessar a minha descoberta. Passei a pedir que fosse mais agressivo, fingisse que estava me forçando a fazer amor.
No começo, ele aceitou. Mas agora está deprimido. Não quer mais. Quero consultar um especialista para saber de onde vem o problema. Será algum trauma de infância que pode ser tratado? É uma coisa temporária ou será que o meu desejo sexual vai estar sempre ligado a essa fantasia? Isso é normal?
Tudo ia bem até você “se confessar”, assumir o seu masoquismo e pedir ao seu marido que assumisse o sadismo – fingindo que te violentava. Ele não quer ser um sádico assumido. Tanto melhor. O sexo limitado ao sadomasoquismo ou a qualquer outra forma de perversão tende a ser monótono. Basta ver a literatura inspirada na filosofia do Marquês de Sade para se dar conta disso. O bordel dos libertinos faz pensar numa escola. O chicote lembra a palmatória.
O problema é menos o de ter a fantasia de ser violentada do que o de insistir numa só maneira de transar. Quem depende da violência para se excitar não tem liberdade e, nesse caso, a experiência da sexualidade – que pode ser uma aventura – torna-se pobre.
Como o masoquismo é uma possibilidade de todos, a fantasia de ser estuprada é mais comum do que se supõe. Era a da personagem do famoso História de O, um romance escrito por Pauline Réage, que vendeu 1 milhão de exemplares. Agradou pelo masoquismo da personagem, que se entregava diante do amante a qualquer um que ele escolhesse e considerava uma honra fazer isso. Do começo ao fim, O obedece aos imperativos de René, e o romance é a história bem narrada da sua humilhação.
Não sei se a sua fantasia é temporária ou definitiva. Depende do que você fizer com ela. Sei que está ligada a um trauma ocorrido no passado e que este pode ser reinventado. Recriando-o através da arte ou decifrando-o através da cura analítica. O passado é como a esfinge. Decifra-me ou te devoro.
O SEXO LIMITADO A QUALQUER PRÁTICA É MONÓTONO
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Olá Betty! amo a forma simples com que vc trata os temas psicanalíticos. seu estilo na transmissão da psicanálise é único e, posso afirmar, ousado. Conheci você no Corpo Freudiano do Rio, quando foi lançar seu livro. Você é intensa!!!
Com certeza vou acompanhar seu novo Blog!
Abraço,
Joana Souza