consulta com Betty Milan
ESPADA OU FLOR?
Sou casada e, como todos os casais, nós temos as nossas discussões. Elas vêm e vão como as tempestades. No calor da briga, dizemos coisas que num dia calmo não sairiam dos nossos pensamentos. Da última vez, meu marido me jogou na cara que eu não tenho orgasmo com a penetração como a ex-esposa dele. Só com a estimulação do clitóris. Infelizmente, não pude dar o troco na mesma moeda, pois eu me casei virgem.
Preciso de ajuda para superar esta tempestade que me deixou desabrigada. Já li em mais de mil artigos que o importante é ter orgasmo e tanto faz a maneira como isso se dá. Mas os artigos não me serviram de abrigo, pois não ter orgasmo com a penetração tornou-se um peso que está me tirando o tesão e a espontaneidade na cama.
Mil artigos! Deve ter sido enfadonho. Teria sido melhor ler A nova desordem amorosa, um livro escrito no final dos anos 1970 por Bruckner e Finkielkraut(27). Segundo os dois filósofos, a veneração do orgasmo, inaugurada por Reich(28) e retomada pelos sexólogos, é uma forma de “tirania do genital”, ou seja, de redução da sexualidade aos órgãos e prazeres genitais, do erotismo feminino ao equipamento sexual masculino e do sexo masculino ao pênis.
E, como se não bastasse a obrigação do orgasmo, o seu marido quer o orgasmo com a penetração e não “só” com a estimulação do clitóris. No início era problema dele, porém, agora que você está perdendo o tesão, passou a ser seu. Pode deixar de ser um problema nos dois casos. No primeiro, você abre mão de se igualar a “todo mundo” – por enquanto, é isso o que você quer. No segundo, você abre mão da paixão do ódio, que te levaria a “dar o troco na mesma moeda” se fosse possível.
Mulher que tem rixa com o parceiro não tem como gostar do falo, que pode tomar uma conotação ameaçadora – conotação existente já na antiguidade entre os gregos e os romanos, que colocavam pequenos priapos ao redor da cidade para defender os jardins contra os ladrões.
O falo pode ser comparado a uma arma, mas também a uma flor – como o antúrio –, ou a um instrumento musical, que faz os amantes se amarem e rolarem ouvindo a eternidade soar.
FAZER AMOR É OUVIR A ETERNIDADE SOAR
Publicado em Fale com ela