consulta com Betty Milan
ENCARCERADO
Tenho 27 anos e, há uma semana, conheci um rapaz pela internet com quem conversei bastante. De saída, ele me disse que estava procurando um parceiro para transar. Embora não fosse essa a minha intenção, continuei o papo. Fiquei empolgado e envolvido. Não ouso marcar um encontro com ele por insegurança e por medo de descobrirem que sou gay. Nunca me relacionei com um homem e nunca falei da minha orientação sexual. Acho que faço assim para não magoar as pessoas que gostam de mim.
O rapaz que conheci pela internet já me disse que só responderá os meus e-mails se eu quiser marcar um encontro. Quero, porém estou paralisado. Corro o risco de ficar só na fantasia de como seria ficar com ele e não ficar na realidade. O que fazer?
Esconder a homo ou a heterossexualidade é um direito. Agora, esconder para não magoar o próximo e viver encarcerado no próprio imaginário é um sacrifício inútil.
Se as pessoas às quais você se refere gostarem mesmo de você, elas saberão respeitar a sua orientação sexual. Se não gostarem, não vale a pena tentar poupá-las. Melhor cantar em alto e bom som “tô nem aí, tô nem aí…”.
Se o problema fosse os outros, você já teria resolvido. Não é por causa dos outros, e sim por não aceitar a sua homossexualidade que você está paralisado. Não a aceita a ponto de ter vivido até os 27 anos amputando-se da realidade, só se entregando à fantasia, punindo-se em silêncio. A virgindade de certa forma te protege. Mas você precisa perdê-la para se ganhar, existir no mundo.
Enquanto você não souber por que não se ama tal como é, nada vai mudar. Procure descobrir o motivo do seu desamor. Todos merecemos nos amar. E todo esforço é pouco para chegar a isso – para se desvencilhar dos preconceitos e ser amigo de si mesmo.
O desejo é subversivo. Assumi-lo nunca é fácil, porém, é a única saída. Quando fica enrustido, ele se torna pernicioso e até pode matar.
O DESEJO ENRUSTIDO É PERNICIOSO
Publicado em Fale com ela