consulta com Betty Milan
Dilema
Tenho 25 anos e estou na universidade. Sou superextrovertida, mas vivo um tormento contínuo. Entre 10 e 11 anos, acordava com sêmen ou um cabo de vassoura entre as pernas e via o meu irmão mais velho sair correndo do quarto. Meus pais trabalhavam e, durante o dia, eu ficava trancada em casa sozinha. O mais velho faltava às aulas e voltava para se esfregar em mim enquanto eu lavava louça, obrigada por ele. Se eu quisesse sair, meu irmão escondia a chave da porta no pênis e mandava eu pegar.
Quando pequena, contei para a mãe que ele ia no meu quarto e ela não deu muita importância. O que fazer? Tenho medo de contar tudo. Por um lado, ela pode não acreditar. Por outro, pode sofrer porque ama os três filhos. A convivência com ele se tornou insuportável e o que aconteceu afeta seriamente os meus relacionamentos atuais. Não consigo ter relações sexuais, pois vejo o meu irmão em todos os meus namorados.
Se você contar para a sua mãe como contou para mim, ela pode não acreditar. Simplesmente por não conseguir imaginar uma chave escondida num pênis. Sendo inimaginável, o fato não é crível e pode ser qualificado de invenção. No seu caso, todo o cuidado é pouco no modo de se expressar.
Mas será que vale a pena contar para a sua mãe? Teria valido quando você era pequena e se ela tivesse escutado. Agora, ela não pode fazer nada por você. Só quem pode é você mesma, tendo uma conversa séria com o seu irmão sobre o ocorrido ou se separando dele, caso ele não queira ouvir. Isso depois de ter começado uma análise para se livrar da imagem que te assalta durante a relação sexual e amarga a sua vida. Ninguém merece isso.
O abuso sexual é bem mais freqüente do que se imagina e pode ser punido com anos de cadeia pelas conseqüências traumáticas para quem foi abusado. Anos depois do abuso, este continua a ter efeitos. A sua história ilustra bem isso. Você vive um tormento contínuo.
Ninguém tem o direito de usar uma criança para o próprio gozo. Isso tanto precisa ser ensinado na família quanto na escola, porque muitos tendem a considerar que o prazer é a única lei do seu desejo. Muitos são os perversos e toda vigilância é pouca.
O PRAZER NÃO É
A ÚNICA LEI DO DESEJO
Publicado em Fale com ela