consulta com Betty Milan

DEPENDE DA PESSOA

Sou gay, tenho 27 anos. Durante quase um ano, morei com um rapaz um pouco mais velho. Tudo ia bem até ele me dizer que não podíamos mais ficar juntos. Foi de uma hora para outra. Cinco meses depois, fiquei sabendo o motivo. Ele tinha feito um teste e descoberto que era HIV positivo. Foi contaminado pelo parceiro com o qual viveu durante oito anos. Fiz vários exames e o resultado foi negativo.

O problema é que eu ainda o amo e ele se afasta, com medo de me infectar. O risco de ficarmos juntos é muito grande?

 

Dependendo do modo como vocês transarem, você corre o risco de se contaminar, sim. Mas você não é obrigado a transar de forma a se expor. Nenhuma prática sexual é obrigatória.

Quem ama é imaginativo. Sabe transar como Pelé jogava: reinventando continuamente o próprio corpo, chutando com a cabeça, mostrando que há um pé na cabeça e uma cabeça no pé.

Quem ama sabe transar como o menino brasileiro brinca com a bola na praia, cortejando a pelota, parando-a no peito do pé, mexendo-o para cima e para baixo sem deixar que ela caia, “alisando” a sua menina, exercitando-se de todas as maneiras na embaixada.

Se você assistir a Eros(70), entenderá ainda melhor o que eu quero dizer. Há no filme três filmes: o primeiro dirigido por Michelangelo Antonioni; o segundo, por Steven Soderbergh e o terceiro, por Wong Kar Wai. Trata-se neste último da história de uma cortesã. Quando, no final, ela se contamina e não pode mais transar com o jovem que a ama, ela lhe nega o corpo e a boca, porém, oferece as mãos e o satisfaz. Não há beleza maior do que a dessas mãos que são tudo para os amantes. Não há no cinema cena mais erótica. Talvez precisamente por causa dos limites a que os amantes estão sujeitos. Os limites fazem imaginar, intensificando a relação.

O HIV positivo pode se tornar a condição de uma vida sexual rica, se você e o homem que você ama forem imaginativos.Deve ser possível. Santa Teresa dizia que o amor tudo pode(71).

  

O AMOR É CRIATIVO

 

Publicado em Fale com ela