consulta com Betty Milan
CRISE EXISTENCIAL
Tenho 37 anos e só namorei duas vezes. Tentei fazer curso superior, porém não concluí. O meu primeiro relacionamento foi com uma moça um pouco mais nova e durou dois anos. O segundo foi com uma moça que era uma vencedora em todos os sentidos. Estudava na USP e trabalhava no Tribunal Regional do Trabalho, onde ganhava bem. Todo-poderosa, ela satisfazia os meus desejos.
Hoje, cinco anos depois de terminado o namoro, sinto-me triste e incapaz de amar novamente. O que fazer?
O seu e-mail me fez lembrar da entrevista de uma escritora francesa, Michèle Sarde, sobre as mulheres no século XX. Segundo ela, “as mulheres livres da nossa época, as que investiram tudo no trabalho e não fizeram concessões, freqüentemente ficam sós. A liberdade tem um preço, e os homens tendem a fugir das grandes mulheres”. O texto termina com o voto de que os homens se tornem mais corajosos, ou seja, mais igualitários.
Será que você se separou da ex-namorada porque ela era “uma vencedora em todos os sentidos”? Porque se sentia diminuído? Se for isso, você foi vítima da apologia machista da mulher que não se emancipou, a que é boa, bonita e burra – bbb.
Aventei essa hipótese por você ter se apresentado como quem aos 37 anos só namorou duas vezes e não concluiu o curso que pretendia fazer. Trata-se de uma apresentação em que você se desvaloriza.
O fato é que você está triste e se sente incapaz de amar. Precisa se curar da tristeza. Quem está deprimido não tem olhos para enxergar o outro e nem ouvidos para escutá-lo. Não ama, porque o amor é contrário ao ensimesmamento. Implica a capacidade de ver, escutar e se surpreender.
Se você superar a depressão, poderá sair do casulo. Para tanto, existem hoje diferentes recursos. Um psiquiatra saberá orientá-lo.
AMAR É VER, ESCUTAR, SE SURPREENDER
Publicado em Fale com ela