consulta com Betty Milan

BISSEXUAL

Sou paulista, tenho 17 anos e eu estou passando por algo inacreditável. Primeiro, me apaixonei por uma garota de Porto Alegre e ela por mim. Quando fui visitá-la, minha avó, a quem eu era muito apegado, faleceu e eu precisei voltar para casa. Nunca mais consegui falar com a garota, que não tem nenhuma culpa, mas ficou ligada àquele trauma.

Depois de um tempo em São Paulo, conheci um rapaz no cursinho por quem sinto uma atração física como nunca antes. Acho que estou apaixonado, pois, quando o vejo, meu coração bate muito forte. Não consigo tirar os olhos dele e fico imaginando formas de me aproximar. Estou muito perdido. O que eu faço?

 

 

Por que será que você está perdido? Por se sentir atraído por um homem quando imaginava que isso nunca aconteceria. Mas nós nascemos com uma predisposição sexual masculina e outra feminina, embora uma delas se sobreponha à outra. A bissexualidade é o nosso traço comum, e o que importa verdadeiramente não é ser hetero ou homo, não é a preferência sexual, mas o amor.

Isso fica claro no filme de Ang Lee, O segredo de Brokeback Mountain, precisamente porque um dos dois caubóis que se amam não aceita ser homossesxual.

Eles se conhecem no trabalho, separam-se para se casar – ter uma vida dita normal – e depois se reencontram continuamente ao longo da vida, por não resistirem ao amor. A paixão é tal que o espectador sai do filme apaixonado, dizendo-se que a questão da hetero ou da homossexualidade é secundária.

Além de subversivo, o amor nos surpreende. Como uma flecha. Daí a representação clássica de Eros, que te flechou duas vezes. Uma primeira vez para gostar de uma garota e uma segunda para gostar de um rapaz. Seria bom consultar um psicanalista para descobrir o que levou você a se apaixonar nos dois casos. Com isso, você ficará mais livre e terá mais possibilidade de escolher.

 

 

A QUESTÃO NÃO É SER HOMO OU HÉTERO

 

 

Publicado em Fale com ela