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BARBÁRIE

Eu tenho 29 e ele 52. Nós estamos juntos há dois anos e a mãe dele me diz que é só porque eu ainda não engravidei. Ele tem vários filhos por aí e não quer nem saber. Não liga pra ninguém, mas eu gosto dele pra caramba.

Apesar de gostar, um ano atrás, eu caí fora. Conheci um príncipe encantador e fiquei com ele seis meses. Casada. E o 52 me procurando desesperadamente. Voltei e a procura acabou. Será que ele só gosta de mulher casada? Ele não é bonito, mas para mim é lindo. Não tem $$$. O que eu faço?

 

 

Você já caiu fora uma vez, caia a segunda, ora. Está esperando o quê? Um filho na barriga? Um filho sem pai como os vários outros que o 52 fez? Numa das peças de Nelson Rodrigues, A falecida, a personagem diz: “Entra de sola, que mulher gosta é disso”. A personagem podia estar se referindo a uma mulher como você, que gosta “pra caramba” de um homem que a procura quando ela está com outro, “não liga pra ninguém” e não assume os próprios filhos. Uma mulher que gosta do chamado “macho sim senhor” e sustenta a tradição que a desvaloriza.

Todos nós temos o direito de cantar com Chico Buarque “me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho, riacho de amor”. Mas ser um capacho na realidade significa dizer sim ao que há de bárbaro na relação entre as pessoas. O sadomasoquismo é bárbaro, salvo quando ele é ritualizado – como, por exemplo, no século XVIII, pelos libertinos franceses. Ou em certos bordéis contemporâneos, onde homens e mulheres são voluntariamente algemados e chicoteados.

Deixar-se maltratar é retrógrado. Tomara que você possa dizer não ao 52 para encontrar um príncipe que nem seja encantado e nem encantador. Um homem que seja um príncipe pela consideração e pela delicadeza.

 

O MACHISMO É UM ARCAÍSMO

 

Publicado em Fale com ela