consulta com Betty Milan

Antes só

Leio a sua coluna desde que você começou. Estranhei quando você disse a uma leitora que, se ela não prestar atenção no tipo de homem que encontra, “vai acabar sozinha”. O que há de mau nisso? Tenho 24 anos, namorei seis anos, contrariando a minha vontade de ficar sozinha. Acho bem mais fácil não ter que me devotar a um outro, não ter que conviver com alguém.

O rompimento foi um grande alívio, mas eu me pergunto se estou errada. Todo mundo quer alguém por perto e eu não. Acabo sendo a amiga solteira, a que não vai ao cinema com os outros para não se sentir só. Não gosto nada disso.

O fato de não querer alguém por perto o tempo todo não quer dizer que eu não ame, e sim que eu prefiro não correr o risco de perder uma pessoa querida e me machucar com isso. Será que a vida a dois é uma necessidade?

 

 

A leitora a quem você se refere queria um encontro verdadeiro e isso não acontecia. Para ela, acabar sozinha era um drama. O seu caso é diferente. Você não queria o namoro de seis anos que acabou em rompimento. Sentia-se obrigada a namorar e ficou aliviada quando se separou.

Só que você pergunta se está errada de não privilegiar a vida a dois e dá a entender que é por não se sentir bem na posição da amiga solteira. Acho que é menos por não querer ser diferente do que por medo da perda.

Você faz a prevenção da dor evitando o apego. Priva-se do encontro para não sofrer. A vida a dois não é uma necessidade, mas sair da situação em que você está é. Pois se trata de uma situação empobrecedora.

Não há como evitar a perda. Nós estamos continuamente sujeitos a ela. Assim, por exemplo, não passa um só dia sem que tenhamos perdido, no mínimo, um dia de vida. Como o que não tem remédio remediado está, o jeito é aprender a perder. Isso significa, por um lado, aceitar a realidade, e, por outro, reinventá-la com otimismo.

O amor não dá garantias, porém, intensifica a vida e por isso vale a pena. Como ele tem um pavio apagador, a gente pode cair. Daí “reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”, como ensina Paulo Vanzolini.

 

O AMOR NÃO DÁ GARANTIAS

 

Publicado em Fale com ela