consulta com Betty Milan

A SINCERIDADE VALE OURO

Tenho 36 anos e estou no ápice. Casamento estável, filha de quem me orgulho, emprego de sucesso e um amante que me realiza sexualmente. Mas sinto necessidade de rever essa fórmula por estar grávida. Trata-se de uma gravidez planejada com meu marido para darmos um irmão ou irmã à nossa filha.

O meu marido é um excelente pai, porém é incapaz de me oferecer afeto físico ou emocional. Estamos casados há dez anos e a nossa relação, hoje, é fria e distante. O sexo é raríssimo. Todos à minha volta me cortejam, exceto ele.

O relacionamento com meu amante é casual, com idas e vindas, segundo as nossas conveniências, sem pressão nem cobrança. Nossa atração física é explosiva e também temos uma boa sintonia intelectual. Conversamos horas a fio sobre assuntos diversos. Ele me ouve quando falo dos problemas que tenho em casa e me dá conselhos, embora deseje se manter à distância. Com isso, levanta a minha autoestima e compensa a indiferença com a qual sou tratada pelo meu marido. Apesar disso, gostaria de dar um tempo. Como propor isso? Devo ser sincera e direta? Devo esconder a gravidez e me distanciar por uns meses? Ou simplesmente desaparecer?

Sinceramente, não sei qual a maneira “moral” de resolver essa situação “imoral”. Por favor, me aconselhe.

 

O seu e-mail me deixou perplexa pela sua frieza.Você se refere à sua vida como a uma fórmula, ao marido como alguém que só existe em função do projeto de fazer uma família e ao amante como alguém que pode ou não ser agendado. Tudo você controla. Não é por acaso que o marido é frio e o amante não se envolve. Os dois homens te espelham.

Mas, neste espelhamento, você não está bem. A criança que se forma no seu ventre te arrebata, ela é a sua esperança de um amor verdadeiro e de um recomeço. Se separar do amante, nesse contexto, significa sair de uma situação em que você vive segundo as conveniências, sem poder se entregar realmente. Uma situação que você considera “imoral”.

Entendo perfeitamente esse seu movimento novo, que é um movimento vital. Nada é mais gratificante do que se dedicar a um recém-nascido, dizer filho/a, ninar a criança. Transmitir a própria experiência, lembrando alguma canção de ninar: Boa noite, filho meu, hora agora de sonhar… Boa noite, filho meu. Transmitir a língua materna com o leite que escorre do seio. Ensinar o nome das coisas, dos seres da terra e do céu. Contar as lendas e as fábulas. Preparar a criança para o eu te amo, o sem você eu não existo, oestando me faltas ouo não estando estás.

No filho, você vai se espelhar de uma maneira nova, aprendendo o sentimento amoroso, que pode decepcionar, mas também pode justificar a vida. O que importa é isso — e é claro que é melhor se separar do seu tão simpático amante sendo sincera.

 

Publicado em Quem ama escuta