consulta com Betty Milan

A SEXUALIDADE HUMANA É VARIADA

Sou solteira e tenho 45 anos. Comecei a me relacionar com um homem também solteiro, da mesma idade e muito bem-sucedido. Dono da sua empresa.

Mas ele quer ser submisso a mim. Devo proibi-lo de falar com outras mulheres. No entanto, posso e devo sair com outros desde que eu conte tudo em detalhes, porque o relato o excita. Que tipo de problema ou trauma está por trás disso? Será que é assim por ele estar acostumado a mandar em todo mundo e querer viver a experiência de ser mandado?

Que risco eu corro ao me envolver com ele? Se hoje, no início do relacionamento, ele me pede para sair com outros, mais adiante vai pedir para fazer sexo na frente dele!

 

Não sei e não posso saber qual é o problema do seu amante. Só sei o que diz respeito a você, que é a autora do e-mail. Escreve “ele quer ser submisso”. Logo depois, no entanto, eu leio “devo proibi-lo de falar com outras” e “devo sair com outros”. Submissa é você, que deve fazer isso e mais aquilo, segundo a determinação dele. Você que aceita ser objeto do desejo dele como a personagem do livro célebre História de O.

Escrito por Pauline Réage e publicado em 1955, o romance teve grande impacto por causa da permissividade absoluta de O, uma das personagens mais enigmáticas da literatura. Fascinou 1 milhão de leitores e os críticos têm os pontos de vista mais diferentes em relação a ela.

Oaceita todas as humilhações que René, o amante, impõe. Se deixar acorrentar e algemar. Sentar nua de pernas abertas e repetir cabisbaixa eu te amo. Permanecer de joelhos afastados. Acariciar os mamilos enquanto ele derruba no rego dos seios a cinza quente do cigarro. Deslizar a mão até o púbis e exibir o botão. Se ajoelhar, ficar de quatro e se deixar violar. E assim por diante, até se entregar diante dele a um outro que ela não deseja, considerando que é uma honra ser tratada assim, ser aviltada.

Em vez de se perguntar o que explica a conduta do seu amante, por que você não se pergunta o que te leva a se envolver com um homem cujo gozo depende inteiramente do mando? Quem depende da obediência alheia para se excitar não dá e não tem liberdade. Nesse contexto, a experiência sexual acaba se tornando monótona — quando ela poderia se renovar continuamente.

 

Publicado em Quem ama escuta