consulta com Betty Milan
A OUTRA
Tenho 39 anos e há três eu “namoro” um homem de 52, casado pela segunda vez e sem filhos. Ele me diz que o relacionamento dele com a esposa é “muito bom”.
Nossa relação física e emocional é intensa. Eu o amo e a recíproca, segundo ele, é verdadeira. Ele me diz que, se fosse só sexo, já teria ido embora. Por que então ele não se separa da esposa para ficar comigo? Que relacionamento “muito bom” é esse que deixa espaço para uma outra? Por que eu aceito viver essa história? Por falta de amor próprio? Adoro estar com ele, mas a clandestinidade faz com que eu me sinta inferior.
Você acha que eu posso encontrar um equilíbrio na atual situação e ser feliz? Ele é a pessoa com quem eu gostaria de ficar o resto da vida.
Você quer ser a única. Já ele quer a esposa e você, que é tão importante quanto a esposa. Você é a Outra com O maiúsculo, a que propicia um encontro especial, freqüentemente impossível no dia-a-dia, porque o cotidiano tende a ser contrário à surpresa. Segundo o psicanalista francês Alain Didier-Weill, nós não podemos prescindir da surpresa, pois é ela que aplaca a saudade da infância, do tempo em que, por termos olhos de criança, vivemos às voltas com novidades surpreendentes.
O relacionamento do seu amante com a esposa é “muito bom” porque ela aceita não ser a única. Não acho que você esteja com ele por falta de amor próprio, mas porque a posição da Outra de algum modo te satisfaz. O motivo, eu não sei. Só é possível descobri-lo através de uma análise.
A clandestinidade exacerba a paixão e há casais que não existiriam sem ela. Se, depois da análise, você ainda achar que ele é o homem da sua vida, você encontrará um equilíbrio no triângulo. Trata-se de uma verdadeira instituição, tão antiga quanto a do casamento e tão bem aceita na cultura francesa que, no enterro de Mitterand, tanto a esposa quanto a amante estavam presentes.
SURPREENDER-SE É PRECISO
Publicado em Fale com ela