consulta com Betty Milan
A ESCOLHA DO ANALISTA É DECISIVA
Tenho uma questão que me intriga desde que fiz terapia com um terapeuta que seguia os preceitos de Freud e não gostava de Lacan. Parei por causa da tal questão. Quero voltar à terapia pois me sentia bem, mas estou em dúvida.
A relação entre um terapeuta e um paciente pode ser tendenciosa sem ser prejudicial? O primeiro pode dizer ao segundo o que ele deve fazer nos seus relacionamentos? Algo do tipo: “Você com ele está correndo um risco. Se eu fosse você…”?
Também quero saber como escolher um terapeuta. Psiquiatra ou psicólogo? Qual a melhor “linha”? Freudianos, lacanianos, qual a diferença? Que tipo de personalidade combina mais com cada um?
Tanto a Psicanálise quanto a Psicoterapia se valem da palavra para atuar, mas é preciso distinguir uma da outra. A meta da primeira é fazer o sujeito saber do seu desejo, através da análise, e, mais que isso, assumir o desejo para mudar de vida. A cura do sintoma é uma consequência do trabalho analítico e pode ocorrer ou não. O analista não dá nenhuma garantia. Não deve, porque o resultado depende do analisando. Já na psicoterapia, a meta é curar o sintoma, exatamente como na terapia médica. A palavra terapia vem do grego therapeia, que significa tratamento.
Voltando à sua questão, a conduta do analista é diferente da conduta do psicoterapeuta. O primeiro escuta o analisando para que este possa se escutar e se reorientar. Não dá sugestão. O segundo, como o médico, pode se valer da sugestão. O risco é a dependência que ela provoca.
O fato de o analista ou psicoterapeuta ser médico ou psicólogo não tem a menor importância. O que interessa é a competência com a qual ele exerce a sua prática. Eu poderia dizer o mesmo em relação ao fato de o analista ser freudiano ou lacaniano se Lacan não tivesse introduzido na prática analítica recursos que a tornam mais eficaz, porque facilitam as manifestações do inconsciente.
Agora, entre um bom freudiano e um mau lacaniano, mais vale um bom freudiano. Isso significa que é preciso escolher o analista procurando saber como ele se formou, mas também o encontrando para saber como ele é no consultório e se existe afinidade.
Publicado em Quem ama escuta