o abc da obra
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ACEITAR
« Aceitar não era gostar e eu, que já não podia me espelhar na Cinderela, estava perdida, eu já não era eu.» (O Papagaio e o Doutor, p. 114 – 2ª versão, impressa)
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AGONIA
«O que eu desejo é o fim da agonia». (Consolação, p. 22 – 1ª versão, impressa)
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Alegria
« Ninguém passa sem rir e Ana ri também. Talvez por ter rido e estar triste, se lembra do amigo afirmando: Tenho vocação para a tristeza, mas creio demais na alegria. » (O clarão, p. 15 – 1ª versão, edição impressa)
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AMADA
« Mulher nenhuma é mais bela do que a amada. O sol que tudo vê nada vê que possa a ela se igualar. » (O clarão, p. 22 – 1ª edição, versão impressa)
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AMIGO
«O amigo faz por ela o que ela não pode fazer por si. Tanto vê quanto ouve o que ela não é capaz de ver nem de ouvir. Por isso mesmo, aliás, ele é um amigo. Quem melhor para clarear as ideias e iluminar o caminho quando a paixão cega?» (O clarão, p. 15 – 1ª edição, versão impressa)
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Amigos
«Sorte ter encontrado um amigo. Só com o amigo a gente pode conversar livremente, falar o que quer.» (Consolação, p. 118 – 1ª versão, edição impressa )
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Amor
« (O seu pai) amava a sua língua e não concebia que eu a ignorasse. Em contrapartida, aprendeu o português e se aprofundou nos estudos brasileiros. Não porque eu exigisse, mas por ter abraçado comigo o meu país. Gostava do que me era caro. O amor é sinônimo de comunhão » (Carta ao filho, p. 82 – 1ª versão, impressa)
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Amor
«A dupla chama se tornou uma referência importante do meu consultório sentimental, pois o autor [Octavio Paz] diz que o amor é uma aposta na liberdade e eu quis passar esta ideia.» (Carta ao filho, p. 63 – 1ª edição, versão impressa)
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AMOR
« O amor do amigo nunca é de agora, ele precede o encontro. Por isso eu tive a impressão de reconhecer João no dia em que o conheci.» (O clarão, p. 46 – 1ª edição, versão impressa)
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AMOR
«O Atlântico entre nós não era um empecilho, ele sabia que o amor contorna os obstáculos e vence a distância.» (Carta ao filho, p. 124 – 1ª edição, versão impressa)
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ANTEPASSADOS
«O futuro dependia de uma nova memória do passado. Quem fui eu que não posso mais ser quem sou? Lembra dos antepassados e de como fomos para saber. (…)» (O Papagaio e o Doutor, p. 30 – 2ª versão, impressa)
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Artista
«Graças ao seu imaginário, o artista cria outra realidade e, com isso, se surpreende e se contenta. O objeto de arte é uma Fonte de Juventa. » (Carta ao filho, p.71 – 1ª edição, versão impressa)
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Aventura
“Sempre achei que a aventura mora na esquina, como diz Breton, e é preciso errar para viver.” (Carta ao filho, p. 81 – 1ª edição, versão impressa)
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AVENTURA
«Onde quer que nós estejamos juntos, eu estou bem, e é esta a razão pela qual eu te sigo quando você diz ‘Vamos’. A Índia é uma aventura para qualquer ocidental.» (Carta ao filho, p. 10 – 1ª versão, impressa)
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BRINCAR
«Para ser sério é preciso brincar. Quero dizer [com esta frase] que a seriedade implica a recusa da crença numa verdade única.» (Carta ao filho, p. 55 – 1ª edição, versão impressa)
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Câncer
«A palavra câncer deixou de ser uma condenação à morte.’ Já foi uma doença que ninguém tratava. Nem era uma doença, era um mal. (…) Um mal que corroía, atacava os órgãos, o corpo inteiro. Como se fosse o castigo do céu.» (Dora não pode morrer, p. 94 – 1ª versão, impressa)
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Carta
«Mando por fax ou pelo correio? O fax, como o jornal, é feito para a gente ler e jogar fora. Já a carta está destinada a ser relida e é isso que eu quero. Sim, que ele me leia e releia. » (O clarão, p. 93 – 1ª versão, impressa)
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CASAMENTO
« (…) não há homem, minha filha, que possa suportar as tuas oscilações. Porque o casamento não é feito para o teu desassossego, ele é feito para durar. » (O clarão, p. 28-29 – 1ª edição, versão impressa)
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CASAR
« Você vai se casar com ele? Quero, vou e pronto. Não passou pela sua cabeça que você ia de um para outro país. Gostava. Pro fim do mundo? Vamos juntos. Com ele nem que seja para o inferno (…).» (O Papagaio e o Doutor, p. 17 – 2ª versão, impressa)
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CONHECIMENTO
« No seu silêncio secular, sisuda ou sorridente, a estátua denunciando a incultura me humilhava, agigantando-se me diminuía. Precisava eu crescer, abocanhar o conhecimento para impedir que me esmagasse. Uma canibal com fome de leão!» (O Papagaio e o Doutor, p. 53 – 2ª versão, impressa)
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consolo
«Como nunca mais falar com ele? Me perguntei isso até entender que podia imaginar as respostas e assim torná-lo presente. Me consolei quando entendi que “ninguém morre enquanto existe no coração do outro”, como diz tão simplesmente a sua avó.» (Carta ao filho, p. 152 – 1ª edição, versão impressa)
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CRUZADA
«(…) espadas, armas e brasões! Pronta para qualquer torneio, encetar papagueando uma verdadeira cruzada contra a ignorância. Quem não me viu verá!» (O Papagaio e o Doutor, p. 71 – 2ª versão, impressa)
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DANÇA
«No posto, dois homens dançam capoeira enquanto um terceiro toca berimbau. Faz que vai, não vai, planta bananeira e gira as pernas no ar. Como um leque. Importa que o cenário da capoeira seja o posto de gasolina? Só a dança importa, a Bahia no coração de cimento da cidade.»(Consolação, p. 137 – 1ª edição, versão impressa)
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DEGUSTAR
«– Não esquece de contar que o batismo fui eu que fiz. (…) Com dente de alho esfregado nos lábios e gota de conhaque na língua. Para aprender a degustar e querer os prazeres… na tradição de Rabelais.» (Consolação, p. 30 – 1ª edição, versão impressa)
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desejo
« Seu pai também foi o meu. Isso significa que, num certo sentido, você e eu somos irmãos. A confusão de papéis existe em todas as famílias. Simplesmente porque o desejo é onipotente e não leva em conta a realidade.»(Carta ao filho, p.82 – 1ª edição, versão impressa)
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Desespero
«Por que este choro de quem nunca vai parar? De quem nada pode ouvir ou ver, fechou todas as portas e janelas? Desespera-se para não ter consciência do que sabe (…) Desespera-se para esquecer que é tão mortal quanto ele.» (O clarão, p. 119 – 1ª versão, impressa)
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DESTINO
«– O destino tira o que a gente tem. O que a gente já perdeu, ele não tira.» (Consolação, p. 153 – 1ª versão, impressa)
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Diagnóstico
«A vida é sua, mas quem decide o que você faz com ela é o médico. O diagnóstico é um veredicto, a sentença a que você está condenada.» (Dora não pode morrer, p. 84 – 1ª versão, impressa)
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DIALÉTICA
«(…) e eu, que havia papagueado a tese e sua antítese, custei a perceber que a dialética ali era distinta. (…) Até me dar conta de que o negócio do homem era valorizar os dizeres todos, qualquer um e o seu oposto, levei um bom tempo. » (O Papagaio e o Doutor, p. 22-23 – 2ª versão, impressa)
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DIÁSPORA
«(…) o tio não acreditava (…) que estivesse no céu e daí podia cair, tampouco que só pelo dinheiro tivesse adquirido o direito de existir. Açu era dele, como Sidney ou Filadélfia. A diáspora era a sua história e a terra toda o seu país. » (O Papagaio e o Doutor, p. 64 – 2ª versão, impressa)
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DINHEIRO
«(…) A riqueza escorregava das nossas mãos como o chão dos pés emigrantes. Sim, era preciso lembrar a história do ouro, do descaso e do extremo caso que do comércio entre nós se fazia. Faia… Dinheiro ou Morte! Jarja… o ensinamento de que sem a compra e venda não teria o alfabeto sido inventado, sem o comércio que levou os fenícios de Tiro a Gibraltar. Faia, Jarja, Labi, Inhô, Amiel, Raji, todos artistas da compra e da venda, capazes de leiloar até o lixo, com o verbo dignificar a escória, tirar ouro da sucata.» (O Papagaio e o Doutor, p. 160 – 2ª versão, impressa)
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Doença
« (…) Ou a cabeça muda ou a doença toma conta. Seja ela qual for. A gente precisa se acostumar com o diagnóstico. Abrir mão do corpo que imaginava ter… aceitar o corpo que tem. » (Dora não pode morrer, p. 96 – 1ª versão, impressa)
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DÚVIDA
«Romeu também não teve dúvidas. Quando a amada pediu que trocasse de nome para se casar, ele renegou o pai e a mãe: Me chama de meu amor, Julieta, e eu estarei rebatizado. (…) É por isso que vale a pena não esquecer… que o amor vale a pena.» (O clarão, p.66 – 1ª versão, impressa)
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EMIGRAR
O país não era possível. Jarja sabia. Viver ali à mercê do turco? Ser arregimentado para a guerra do outro? Um estrangeiro em sua cidade, destinado a emigrar, colher o pomo da saudade.» (O Papagaio e o Doutor, p. 31-32 – 2ª versão, impressa)
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escuta
«Sei hoje que, seja qual for a história do outro, podemos nos reconhecer nela, porque a escuta humaniza e permite superar a intolerância.» (Carta ao filho, p. 85 – 1ª edição, versão impressa)
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ESCUTA
«Só a escuta dele faria vislumbrar outra possível fisionomia. O que mais me faltava era eu. Mas seria para ficar assim à míngua que eu pagava, perguntava-me então. Que tratamento era aquele do Doutor?» (O Papagaio e o Doutor, p. 118 – 2ª versão, impressa)
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Escutar
«Escutar é uma arte. Implica a contenção e a prontidão. Saber se calar e saber falar na hoa certa.» (Carta ao filho, p. 70 – 1ª edição, versão impressa)
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Esperança
«(…) a esperança de Ana cresce. O seu pedido não há de ser feito em vão. A presença da estrela da manhã disso a certifica. Não sabe explicar o porquê e não se importa. Quem não prefere a certeza da cura à incerteza da doença?» (O clarão, p. 17– 1ª versão, impressa)
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Estrela
« Aprendi, escrevendo o livro, que a morte pode ser uma estrela. Por um lado, ensina a não perder tempo. Por outro, que ninguém deve lamentar a perda como se não fosse morrer. » (Carta ao Filho, p. 30 – 1ª versão, impressa)
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EUTANÁSIA
«Durmo e acordo com a palavra eutanásia. Euthanos… a boa morte. Por que a boa morte é proibida? Por que a lei obriga o homem a sofrer?» (Consolação, p. 27 – 1ª edição, versão impressa)
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Existência
« – (…) A desaparição do meu corpo não é a minha desaparição. A morte não anula a minha existência e não anula o que você e eu vivemos. O nosso casamento estava fadado a acabar. Por que se desesperar? Quem ignora o efêmero da vida não se dá conta da preciosidade da existência. » (Consolação, p. 129 – 1ª versão, impressa)
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Experiência
«Certas coisas a gente só aprende com a experiência. Sei bem que você não acredita nisso e não está de acordo comigo. Não importa. Para se dar bem, não é preciso concordar sempre, nem é possível, por maior que seja o desejo de coincidir.» (Carta ao filho, p. 140 – 1ª versão impressa)
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FALO
«Claro que o falo não era o pênis. Quem desejaria distinguir um do outro e me deixar com o primeiro? Qual dos varões, seres por definição autossuficientes, aceitaria depender das mulheres? A qualquer preço me obrigariam a dobrar a língua, se não a colocar o rabo entre as pernas.» (O Papagaio e o Doutor, p. 68 – 1ª versão, impressa)
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Fantasia
« Sem ter corpo de homem, eu tinha imaginariamente os direitos. Isso mostra que a fantasia importa tanto quanto o sexo biológico, e a identificação a este é redutora.» (Carta ao filho, p. 76 – 1ª edição, versão impressa)
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FANTASIA
«Não pode sair na cidade, não vai mais na missa aos domingos, foi assaltado várias vezes, foi injuriado e ainda diz que a cidade é uma maravilha… Decididamente, a realidade não muda a fantasia.» (Consolação, p. 123 – 1ª edição, versão impressa)
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FUTURO
« Não sou adivinha. Ainda bem. Já imaginou se nós soubéssemos o futuro? Teríamos que renunciar à esperança. Dora entrou para o clube dos humanos. Mais cedo ou ais tarde, todo mundo entra. Como ninguém sabe quando, o melhor é estar pronto.» (Teatro Dramático, Teatro Lírico/ Dora não pode morrer, p. 94 – 1ª edição, versão impressa )
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generosidade
« ‘Penso nos outros, logo existo.’ (…) João não concebe a sua existência sem levar em conta a dos outros e por isso é querido. Ele não é só um publicitário, é um filósofo popular. A sua verdadeira estrela é a generosidade.» (O clarão, p. 16 – 1ª edição, versão impressa)
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Humor
« ‘Agora, sei que não sou capaz de falar. Um comunicólogo que não se comunica.’ Por sorte, resta o humor, a delicadeza do desespero, como João diz. E resta a escrita. Com a escrita, ela se torna presente.» (O clarão, p. 84 – 1ª versão, impressa)
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Iluminação
« O amigo faz por ela [Ana] o que ela não pode fazer por si. Tanto vê quanto ouve o que ela não é capaz de ver nem de ouvir. Por isso mesmo, aliás, ele é um amigo. Quem melhor para clarear as ideias e iluminar o caminho quando a paixão cega? » (O clarão, p. 15 – 1ª edição, versão impressa)
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ILUSÃO
«Nenhum dos dois pode prescindir da cidade natal. Quem pode? Intocável, porque é mítica. Nascemos todos destinados à ilusão.» (Consolação, p. 125– 1ª edição, versão impressa)
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IMAGEM
«A tal ponto colada à máscara que sequer podíamos imaginar como seria o rosto. (…) Só vivia pela imagem e quiçá por isso fosse irreal – como um retrato que tivesse magicamente adquirido vida e logo voltaria à moldura, à sala de visita (…)» (O Papagaio e o Doutor, p. 93 – 2ª versão, impressa)
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INCLUIR
«Deveríamos falar o tupi além do português. E também o nagô e as outras línguas africanas. E as línguas da imigração, o italiano, o árabe, o japonês. Não se trata de ser isto ou aquilo, mas de ser isto e aquilo. A palavra de ordem é incluir.» (Consolação, p. 77 – 1ª edição, versão impressa)
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inclusão
« [Joãozinho Trinta] abriu o desfile da Vila, Soy loco por ti América, com outros paraplégicos, ensinando, com a sua pessoa, que a verdadeira beleza não pode excluir quem quer que seja, e o Carnaval é a grande festa da inclusão.» (Carta ao filho, p. 51 – 1ª edição, versão impressa)
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JEITO
«Se me processarem, eu compro o juiz. Há sempre um jeito. E não é para dar ao pobre que o governo não paga o rico. Não paga porque só o que interessa é financiar a próxima campanha, continuar no governo» (Consolação, p. 121– 1ª edição, versão impressa)
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JOGO
«Entrou no meu jogo para mudar o rumo do mesmo, fez de conta que o convite dos açuanos o interessava para me induzir a tirar a máscara.» (O Papagaio e o Doutor, p. 13 – 2ª versão, impressa)
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LADRÃO
«Ladrão é ladrão. Se fosse piedoso, não seria ladrão. Para ele, roubar é existir.» (Consolação, p. 93 – 1ª edição, versão impressa)
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Lesbos
«(…) na praia duas mulheres que ora falam, ora se acariciam. (…) Têm o tempo que quiserem para se amar e tanto escrevem quanto leem versos na areia. Como em Lesbos. Porque o amor oferece o céu e não teme o inferno (…) Quem ama ousa, é livre (…).» (O clarão, p. 56 – 1ª edição, versão impressa)
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LÍNGUA
«Mas São Paulo é o que me resta, é a língua da música que eu preciso ouvir, das palavras em ãe, mãe… em ão, coração, pão, chão; a língua em que eu reinvento a língua, em que a palavra reina… ela canta, ela chora.» (Consolação, p. 40 – 1ª edição, versão impressa )
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Literatura
« O [bilhete] mais impressionante foi o que [o seu pai] me deixou num pedaço de jornal uma hora antes de ser hospitalizado para tirar o pulmão: ‘A literatura é a prova de que a vida não basta.’» (Carta ao filho, p. 75 – 1ª edição, versão impressa)
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LOUCURA
«Confundir a realidade com a imaginação é uma forma de loucura. Sei disso. Mas sempre gostei de vê-lo entrar em casa como se entra em cena.»(Consolação, p. 11 – 2ª versão, impressa)
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Mãe
« Devia existir um contrato… um contrato entre mãe e filho, com tempo limitado. (Ironicamente) Mãe é mãe, mesmo depois de morta» (Dora não pode morrer, p. 86 – 1ª versão, impressa)
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MATERNIDADE
« A maternidade primeiro requer a presença quase contínua da mãe. Depois, a ausência. Duas atitudes opostas! (…) Trata-se de uma relação desigual, que não pode ser confundida com uma relação de amizade, pois não há nada de obrigatório na amizade.» (Carta ao filho, p.64 – 1ª edição, versão impressa)
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MÁXIMO
«O sonho do outro! Tangida por ele… o da mãe, o do pai, de cujo projeto aliás escapei por um triz. Se o tivesse realizado, acabaria numa cátedra, já que esta era o ponto máximo da única carreira concebível para uma mulher e eu havia sido concebida para o máximo.» (O Papagaio e o Doutor, p. 95 – 2ª versão, impressa)
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Memória
« Errei até me dar conta de que perder não é deixar de ter e ninguém deixa necessariamente de existir porque morre. Passa a existir na memória. O nosso consolo é este. Sem rememorar, nao suportaríamos a perda – a de um ente querido ou a do tempo que passa. » (Carta ao filho, p. 16 – 1ª versão, impressa)
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Morrer
« Seu pai foi meu melhor interlocutor e o trabalho de luto foi longo. Como nunca mais falar com ele ? Me perguntei isso até entender que podia imaginar as respostas e assim torná-lo presente. Me consolei quando entendi que ninguém morre enquanto existe no coração do outro. » (Carta ao filho, p.152 – 1ª versão, impressa)
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Morrer
“Morrer não é sinônimo de sofrer. Quem tem consciência da própria morte? Quem sabe que morre ou que deixou de viver? Não é quem vai morrer que a morte golpeia… é quem fica (…).” (Dora não pode morrer, p. 94 – 1ª edição, versão impressa)
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morte
Nada podia salvá-la da morte, que ela teria pedido aos céus para não ver o companheiro morto, para não viver esse luto. (…) Pior do que morrer é saber da morte do amado, ou do amigo, que é único também. (O clarão, p. 135 – 1ª edição, versão impressa)
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MORTE
« (…) não há quem possa desperdiçar um só minuto. O que a morte ensina é isso. Hoje está. Amanhã ninguém sabe. Dança para celebrar a vida e para celebrar a morte, que, não deixando perder tempo, não deixa perder a vida.» (O clarão, p. 180-181 – 1ª versão, impressa)
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Mortes
«A morte repentina pode ser de todas a pior. Como pode ser tão desejada? Só mesmo para evitar a consciência do fim… Foi por isso que o rapaz se expôs a esse acidente, a essa morte que é selvagem. Nasce, cresce e morre na paixão da ignorância. (…) Que razão existe hoje para se desejar morte tão traiçoeira? Ou então morte que seja clandestina, sem cerimônia ou testemunha alguma. Certo está João de se preparar para o seu fim. (…) Só quem não se ama não se prepara para a morte.» (O clarão, p. 158 – 1ª versão, impressa)
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MUSEU
«Até para os esgotos Paris oferecia visitas, promovia conferências. Visita conferência e já estava a merda glorificada pelo saber. Outros quinhentos! Já em casa, lá embaixo, nem o ouro nos valera museu. » (O Papagaio e o Doutor, p. 67, 2ª edição, versão impressa)
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Não
« O fantasma do pai de Hamlet entra em cena exigindo vingança. Hamlet deve matar o assassino do pai. Por obedecer à exigência, ele mata e morre – a obediência lhe custa a vida. Como ele, todos nós estamos expostos à tirania consciente ou inconsciente do ancestral. Para viver, é preciso sustentar o não. » (Carta ao filho, p. 149 – 1ª versão, impressa)
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Não
« Resistir à pressão da família, dizer não ao desejo dos ancestrais é tão importante quanto dizer sim a eles. O custo do não pode ser alto, porém, nada custa mais do que renunciar ao próprio desejo. » (Carta ao filho, p. 69 – 1ª edição, versão impressa)
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NOME
« – Três vezes sonhei que lhe pedia para ler o nome de uma rua. (…) – Sim, sim, é bem curioso… Nome, renome… A senhora talvez faça do meu renome um nome. »(O Papagaio e o Doutor, p. 72 – 2ª versão, impressa)
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NOME
«A incrível tirania da tribo, do nome! O nosso apego a ele! Sim, eu, os outros, as tias (…). Nenhuma que não tivesse dado preferência a um parceiro cujo sobrenome fosse idêntico, prestado depois mais um tributozinho à tribo fazendo o sobrenome figurar no prenome dos filhos.» (O Papagaio e o Doutor, p. 151 – 2ª versão, impressa)
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ORIENTE
«(…) ao alcance da mão estava a lâmpada de Aladim. O Oriente do Oriente, mas também do Ocidente – Andaluzia, al Andalus, a Espanha das cidades fortificadas que não se podem tomar. (…) álgebra – de origem árabe – al-mofada, al-moço, al-mofariz, as palavras todas começadas por al, árabes como açúcar de sukkar, laranja de narany.» (O Papagaio e o Doutor, p. 30-31 – 2ª versão, impressa)
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ORIGENS
«Ia eu me apresentar revelando as origens? Seria exibir de saída o que desde sempre me empenhava em ocultar, não padecer do mal de ter que dissimular a história, em suma não ser eu quem era.» (O Papagaio e o Doutor, p. 10 – 2ª versão, impressa)
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OUTRA
«Nem há aqui encantadora e tampouco uma serpente. Vem que é outra, só do samba a minha negaça, do traseiro e dos pés. O ventre? Eu dele só espero que seja enxuto. A alma? Onde o corpo mais possa servir a ginga.» (O Papagaio e o Doutor, p. 175 – 2ª versão, impressa)
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Pai
« (…) o pai precisa entrar em cena, lembrar que não há só dois, e sim três. Que o terceiro também quer ser amado. Quando o teceiro entra, a relação do filho com o mundo se estabelece. O pai abre portas e janelas. » (Carta ao filho, p. 75 – 1ª versão, impressa)
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PAI
«(…) para não ser órfã eu reinventava o censor. Onde a antiga fúria e a ameaça do chicote, a reprimenda que me serenava? Onde o pai?» (O Papagaio e o Doutor, p. 65 – 2ª versão, impressa)
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PAIXÃO
«A nada eu me ligava e nada me fazia escapar à monotonia daquela paixão assassina, eu só estava para matar ou morrer. (…) E a mãe se escandalizando intercedeu. Que a menina fosse para o exterior se curar daquele ódio se não de amor assim tamanho.» (O Papagaio e o Doutor, p. 75-76 – 2ª versão, impressa)
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Paixões
« ‘– As paixões humanas são três, a do amor, a do ódio e a da ignorância Ninguém está a salvo de nenhua delas, mas é possível não se entregar à ignorância, abrir mão do não saber.’» (O Clarão, p. 103 – 1ª versão, impressa)
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Palavra
« Muito cedo dei a entender que a palavra é o nosso abre-te-sésamo. » (Carta ao filho, p. 32 – 1ª versão, impressa)
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Palavra
« O próprio ato de se expor à palavra gera resistência. Pelo simples fato de que ela nos surpreende. Quem gosta de cometer um lapso e dizer o contrário do que supostamente desejava? » (Carta ao filho, p. 108 – 1ª versão, impressa)
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PERDA
«Nem de perder nem de se perder o tio tinha medo. A crise só para os outros – não porque fosse rico, e sim por não economizar. Pagava a pena? Acaso fazia sonhar? Que na sua mesa não faltasse (…).» (O Papagaio e o Doutor, p. 64 – 2ª versão, impressa)
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PERDER
«Perder não significa não ter (…). O amor verdadeiro é eterno. A morte separa os cônjuges, os amantes ela não separa.» (Consolação, p. 129 – 1ª versão, impressa)
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PODER
«Conheço os meus colegas [médicos], eles sonegam informação. O poder é o poder. Sem o segredo ele não existe.» (Consolação, p. 16 – 1ª edição, versão impressa)
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Poeta
« O poeta (…) escreveu para qualquer um que goste dos versos. Portanto, para nós. O poeta pensa no outro. Mesmo quando escreve na primeira pessoa. ‘Apaga-me os olhos, tapa-me os ouvidos… [ainda posso te ver, ainda posso te ouvir], ele diz o que sente, fazendo quem lê sentir.» (O clarão, p. 85 – 1ª versão, impressa)
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Possível
« ‘– Só quem quer o que pode é livre.’ Só quem quer o que é possível… Será por isso que João aconselhava a só contar as flores e os frutos e não as folhas que tombaram? Contar as flores e os frutos é falar do que é bom. Não contar as folhas tombadas é não lamentar o que está perdido (…).» (O clarão, p. 93 – 1ª versão, impressa)
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PROVA
« – As provas são para os atletas, filho. O amor dispensa provas.» (Consolação, p. 26– 1ª versão, impressa)
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RACISMO
«(…) para eles você era uma turca e o racismo, uma face da América. Não teria havido outra forma de reagir? O meu conterrâneo na ponta do teu sabre! Mas podia eu que te amava não tomar o teu partido contra os outros? (…) Com maktub você me negou a história, com açuanii, a pátria. Pouco?» (O Papagaio e o Doutor, p. 28-29 – 2ª versão, impressa)
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REPETIÇÃO
« (…) ‘Fiquei contente. Não era então que eu sabia?’ E o tio que na infância detestava aquele sacrifício se regozijava de tê-lo executado, pois na repetição estava a prova de ser mesmo o filho do pai, pertencer à tribo e assim ter uma pátria». (O Papagaio e o Doutor, p. 101-102 – 2ª versão, impressa)
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RESISTIR
«A vida te obriga a resistir continuamente, e, se você não estiver disposto a isso, soçobra… Ela te escapa, mas depende de você.» (Consolação, p. 49– 1ª versão, impressa)
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SELVAGEM
« Onde quer que você esteja, nos quatro cantos do mundo, o desconhecido é o selvagem.» (Consolação, p. 83 – 1ª versão, impressa)
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SILÊNCIO
«Jarja das histórias e dos silêncios(…) Quieto Jarja porque o homem fala e o sábio cala? Ou simplesmente porque assim estava fora de perigo e nunca ninguém se arrependeu de calar, conforme dizia a avó? De paz ele era. O sabre na tuaqbainha enquanto puderes te defender com palavras.»(O Papagaio e o Doutor, p. 31 – 2ª versão, impressa)
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SUBTERRÂNEO
« O metrô para não ir a lugar nenhum, adiar o Doutor, me vingando, purgar a culpa de quem não existia segundo as normas e perambulava excluída do espaço dos normais. Os subterrâneos para me repetir (…).» (O Papagaio e o Doutor, p. 76 – 2ª versão, impressa)
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SURDEZ
« Os moribundos e os mortos também falam. Os vivos é que não ouvem. Talvez precisem da surdez para viver. » (Consolação, p. 30 – 1ª versão, impressa)
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TEATRO
«O teatro tanto permite mudar de corpo quanto de alma. Até ser uma freira. Ou mesmo uma santa. Teresa d’Ávila, por que não? (…) confessar que, de tão grande a paixão, já não há como ser dono de si. Só em cena se pode dizer isso. Dizer e sentir. » (O clarão, p. 63 – 1ª edição, versão impressa)
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Tempo
« Tempo de ver… momento de enxergar… O que quer a santa dizer com a frase? Que é necessário esperar para saber? Que a gente não encontra o caminho só porque procura? Seja como for, o tempo é longo, porque é feito de espera e o momento a gente não sabe quando é. » (O Clarão, p. 47 – 1ª versão, impressa)
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TEMPO
« O dia inteiro assim ciscando? Ciscando ou andando… O dia inteiro, e a pomba não se pergunta se está perdendo tempo, como eu na companhia de João. Eu com ele só ganhei perdendo tempo. Horas inesquecíveis. Sem elas a amizade não existiria Sem a conversa desinteressada, que só visa o contentamento.» (O clarão, p. 29 – 1ª edição, versão impressa)
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TEMPO
“– Na ausência, o tempo custa a passar, e quem escreve suspende o tempo. Recebia três cartas dele por mês. Era como se o mês tivesse só três dias.» (Consolação, p. 155– 1ª versão, impressa)
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TÍTULO
« Doutora para não ser ‘dona’ como as outras, escapar à condição do meu sexo, que o pai exaltava contra os ventos malévolos do tempo, evocando Joana D’Arc à frente de várias legiões. O título garantia o pódio, servindo de armadura!» (O Papagaio e o Doutor, p. 29 – 2ª versão, impressa)
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TRANSAR
« Proibido transar? Loucura. Quem podia em sã consciência negar o direito incontestável ao sexo?» (Consolação, p. 41 – 1ª versão, impressa)
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Ubiquidade
« O que eu mais quero é te contentar, porque sem você eu não existo. Onde quer que você esteja, eu estou. Desde que você nasceu, tenho o dom da ubiquidade. Me transporto para o lugar onde você estiver. » (Carta ao filho, p. 9 – 1ª edição, versão impressa)
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Velhice
« (…) Vivi até quase cem anos. Tempo demais! (…) Vivi mais do que precisava. Virei uma curva ambulante. Parecia um ponto de interrogação. Não andava sem bengala. O que eu mais dizia era ‘O quê? O quê’. Não escutava nada… E, como ssse a surdez não bastasse, eu não enxergva. Vivi tanto tempo que eu corri o risco de te enterrar… enterrar o meu próprio filho. Por sorte, eu enfartei antes. » (Dora não pode morrer, p. 86 – 1ª versão, impressa)
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VERBO
«Sim, o Doutor como Hila não era de prosa, conversa fiada. (…) resmas e mais resmas de papel para que ninguém ignorasse a diferença entre a palavra que faz acontecer e a outra. Não era portanto para me deixar esvaziar o verbo, tornando-o inconsequente, que ele me recebia.» (O Papagaio e o Doutor, p. 21 – 2ª edição, versão impressa)
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VERGONHAS
« Ser a viúva radiosa, por que não? Vestida de plumas e paetês. Ou nua, como quer Oswald. Sem preconceito. Nunca tivemos vergonha de nossas vergonhas. O que importa é sapatear no ritmo. O Carnaval só mostra a caveira para afastar a morte e exaltar a vida.» (Consolação, p. 145– 1ª versão, impressa)
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VIDA
«A vida surpreende, faz bem pouco do projeto de vida. » (Consolação, p. 49 – 1ª versão, impressa)
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VIDA
A cada minuto, o fio da vida fica mais curto. (Consolação, p. 88 – 1ª versão, impressa)